Pular para o conteúdo

Videogame Wii põe diversão na fisioterapia

    Pacientes que inventam milhares de desculpas para fugir das sessões de fisioterapia têm agora uma inusitada razão para se tornarem mais assíduos: o uso do videogame Nintendo Wii no tratamento. A ideia de usar a realidade virtual na fisioterapia não é nova. Clínicas estrangeiras já haviam utilizado o Playstation 2, da Sony, mas os recursos deste não podiam ser aproveitados por todos os pacientes.

    O que diferencia o console da Nintendo dos demais são seus sensores, instalados junto ao aparelho de TV, que captam os movimentos dos jogadores e os reproduzem na tela. O recurso permite que os pacientes movimentem todo o corpo ao brincar, e não apenas a mão, como nos games tradicionais. Assim, durante a terapia, é possível simular jogos de tênis, boliche, luta de boxe, baseball e golfe (Wii Sports) ou praticar dança, ioga e outros exercícios que desenvolvem a força e o equilíbrio (Wii Fit).

    “Enquanto estão jogando, os pacientes, sem perceber, executam movimentos que eles mesmos consideram difíceis”, explica o fisioterapeuta Fábio Navarro Cyrillo, responsável pela implementação da ferramenta na clínica de fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid). Outro ganho é a possibilidade de o paciente acompanhar a sua evolução, uma vez que o game reproduz na TV os movimentos do jogador. É o que se chama de “espelho virtual”.

    Estudos científicos já se debruçam sobre o assunto, tentando estabalecer de forma clara quais os benefícios do uso do game na fisioterapia – e também eventuais contraindicações. Por ora, Maureen J. Simmonds, diretora do departamento de fisioterapia da Universidade de McGill (Canadá) e uma das pesquisadoras do tema, diz que os “resultados são promissores” para a saúde, além de a nova técnica ser divertida, barata e de fácil aplicação.

    Corpo e mente – Quase todos os pacientes podem se beneficiar da novidade. As exceções são grávidas nos três primeiros meses de gestação e pessoas com problemas mentais ou que apresentem um quadro agudo de dor (tendinite). Outro ponto que deve ser ressaltado é que o Nintendo Wii só deverá ser usado como forma de tratamento depois de avaliação médica, e as sessões deverão ser acompanhadas por fisioterapeuta.

    Excetuando-se esses casos, seu uso é livre, segundo o fisioterapeuta Denis Graciotto. O tratamento é indicado para todas as idades e tanto para problemas ortopédicos quanto neurológicos. Em caso de dano neurológico, o videogame é bastante proveitoso para auxiliar na recuperação motora, necessária em casos como o de adultos que sofreram acidente vascular cerebral (AVC ou derrame cerebral). O tratamento visa trabalhar coordenação motora, força e raciocínio.

    No caso de crianças com paralisia cerebral, o tratamento ajuda a desenvolver movimentos básicos, como tomar um copo de água e pentear o cabelo. Já as doenças degenerativas – aquelas cujos sintomas se intensificam com o tempo – são mais complicadas, mas também podem tirar proveito do Nintendo Wii, garantem os especialistas: é possível, por exemplo, retardar a progressão dos sintomas.

    “O Wii Sports (que usa o tradicional joystick e suas variações) é indicado para o tratamento de lesões medulares e pacientes que fizeram cirurgias ortopédicas nos membros superiores”, diz Graciotto. “Já a plataforma do Fit (colocada no chão e sobre a qual o jogador atua) é ótima para trabalhar na fase pós-operatória dos membros inferiores, principalmente joelhos e tornozelos. Ele ainda trabalha a força, o equilíbrio e ajuda aqueles que estão em fase de propriocepção (situação em que o paciente passa a ter percepção espacial de seu corpo, como posição e orientação)”.