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Idoso brasileiro é otimista

    Memória (2010)

    Pesquisa internacional mostra que idoso brasileiro é o mais otimista do mundo, mas não se prepara para a terceira idade.

    A terceira idade parece mesmo ser a melhor fase da vida: filhos criados, estabilidade financeira, projetos realizados, tempo livre e netos para brincar. Para 17% dos brasileiros com mais de 65 anos de idade, a velhice é uma coisa muito boa, segundo a pesquisa internacional Bupa Health Pulse 2010, o maior índice entre os países pesquisados. Porém, para chegar a essa fase da vida, poucos se preparam. A maioria dos brasileiros (76%) confia que será amparada pela família na velhice. Nem sempre é isso que ocorre.

    idoso sorriso

    Mudanças na estrutura social e até o modelo econômico não garantem mais esse amparo familiar na terceira idade.

    Os casais têm menos filhos, as separações são mais frequentes, os maus-tratos contra idosos são crescentes e, além disso, o número de aposentados que mantêm os lares é grande –, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que mais da metade das famílias depende do rendimento do idoso para se manter.

    Há ainda os cuidados extras que o envelhecimento impõe ao cidadão com relação à assistência à sua saúde – 81% das pessoas da terceira idade têm algum tipo de doença crônica, como hipertensão, dores nas costas, diabetes e problemas do coração, segundo o Ministério da Saúde.

    A renda do idoso, seja através da aposentadoria ou do trabalho estendido na terceira idade, é tida por algumas famílias como uma alternativa para amenizar o endividamento pessoal.

    E aí, as expectativas mudam: não são os parentes que cuidam do idoso, mas o contrário.

    Além de não prover o sustento dos pais e avós, os jovens adultos ainda se aproveitam do crédito consignado a aposentados oferecido pelas financeiras.

    “Há empresas que oferecem consulta de crédito ao filho a partir do contracheque da aposentadoria do pai aposentado. Isso é um crime, é uma violência.

    Qual idoso não vai atender a um pedido de empréstimo do filho, mesmo que fique endividado?”, aponta o presidente do Conselho Estadual dos Direitos do Idoso no Paraná, Bohdan Metchko Filho.

    Para a psicóloga clínica Ana Paula Pepe, do Hospital Milton Muricy, de Curitiba, essa falta de conscientização dos filhos com relação ao suporte financeiro dos pais idosos tem razões mais profundas.

    Por questões econômicas, os filhos acabam dependendo financeiramente dos pais, que por sua vez, querem se sentir úteis, diante do modelo capitalista imposto e, ao mesmo tempo, negar que estão velhos porque não sabem lidar com esse sentimento.

    A pesquisa da Bupa Health Pulse demonstra que 67% dos idosos se sentem saudáveis, abrindo brechas para uma aposentadoria tardia. “É uma via de duas mãos. A sociedade não está preparada para enfrentar essa fase da vida e não sabe lidar com o envelhecimento”, aponta.

    Para Ana Paula, a saída pode estar no atendimento prestado à família. Com a sensibilização dos profissionais que trabalham nas políticas públicas voltadas à terceira idade é possível, de acordo com ela, atingir a família, preparando os parentes para lidar com a situação.

    O presidente do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, José Luiz Telles, considera que muito já foi feito após a Constituição, há 22 anos, mas os desafios ainda são grandes.

    Ele revela que houve melhorias na rede de atendimento à terceira idade no tripé saúde, assistência e previdência social. “Hoje 90% da população idosa é coberta por recursos previdenciários.

    No âmbito da assistência social, temos 1,4 milhão de idosos recebendo o Benefício da Prestação Continuada (um salário mínimo para idosos em situação de pobreza).

    E os serviços de saúde são universais”, resume. Porém, segundo Teles, é preciso trabalhar políticas públicas que garantam o desenvolvimento sustentável. “O desafio está em mudar a situação da família – com emprego e renda para filhos e netos – para que essa se sustente sem precisar do benefício pago ao idoso”, analisa.

    Planejamento inclui hábitos, renda e saúde.

    Planejar não é um verbo tão comum no dia a dia do brasileiro, ainda mais quando o assunto é ter uma aposentadoria tranquila.

    Segundo a pesquisa Bupa Health Pulse 2010, apenas 7% das pessoas com mais de 65 anos entrevistadas reservaram algum dinheiro para chegar a essa fase da vida.

    No Brasil, 64% das pessoas não se preparam para a velhice, ou seja, não sabem como irão se manter financeiramente ou como serão amparados se precisarem de auxílio.

    O assessor de investimentos Daniel Reque explica que quanto mais cedo houver planejamento, melhor.

    Ele dá um exemplo: se uma pessoa que começa a trabalhar aos 20 anos poupar R$ 50 por mês e fazer um investimento com retorno de 1% de juros mensais, que pode incluir renda fixa (poupança) e variável (título público, por exemplo), vai acumular quase R$ 600 mil num período de 40 anos e, assim, chegar aos 60 anos com dinheiro reservado. “Quando se está mais velho, é preciso mudar o cálculo, investir mais dinheiro e apostar em algo com menos riscos”, acrescenta, lembrando que é possível não depender apenas da previdência pública para ter uma velhice sossegada. “O segredo é planejamento e disciplina”, resume.

    A psicóloga clínica Ana Paula Pepe frisa que a saúde é outro fator fundamental. Assim como a criança vai ao pediatra, o adolescente ao hebiatra e a mulher ao ginecologista, o idoso também precisa ter um acompanhamento médico constante. “Ele deve fazer um acompanhamento preventivo para ser bem-sucedido”, lembra.

    O administrador de empresas Anderson Cavalcante, especialista em gestão de pessoas, tem uma dica importante: “Para a pessoa se realizar na vida tem de seguir três coisas: ter o que fazer, alguém para amar e algo para desejar”.

    O escritor acredita que é importante que o idoso se mantenha ativo em algum tipo de trabalho, se dedique aos seus familiares ou ao seu companheiro e cultive sonhos.

    Para atingir esse estado, segundo ele, é necessário planejar a vida para a chegada da terceira idade. “Por volta dos 30, 40 anos as pessoas começam a buscar um novo significado para a vida.

    É aí que surgem muitas pessoas que buscam, conforme as pesquisas, a segunda carreira. Deixam tudo o que fizeram até agora e iniciam um novo tipo de trabalho, para buscarem sua realização pessoal”.

    Fonte: Gazeta do Povo