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Técnicos suspeitam de intoxicação em casos de mortes após ressonância

    Três pacientes do hospital Vera Cruz morreram após realizarem exames de ressonância magnética.

    CAMPINAS – Técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde, e a Secretaria de Saúde de Campinas investigam a possibilidade de uma substância química, ainda não identificada, ter provocado a morte dos três pacientes, que morreram na última segunda-feira depois de realizarem exames de ressonância magnética, no hospital Vera Cruz.

    “A causa mais provável, mas ainda sem embasamento, é de que tenha ocorrido um quadro toxicológico, de natureza qualitativo ou quantitativo, que provocou a morte dessas pessoas”, afirmou a gerente de Regulação e Controle Sanitário em Serviço de Saúde da Anvisa, Maria Ângela da Paz. Ela e outros dois técnicos do órgão chegaram na cidade nesta quarta-feira para auxiliar nas investigações.

    Pela linha de investigação, as vítimas podem ter sofrido uma intoxicação por algum produto que foi administrado em seus organismos no momento da aplicação do contraste (composto químico, a base de gadolínio, usado no exame para melhorar a qualidade das imagens e do diagnóstico).

    A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde, Brigina Kemp, explicou que essa substância química injetada tenha provocado uma reação hepática aguda, que levou as três vítimas a morrerem. As vítimas foram dois homens, de 36 e 39 anos, e uma mulher de 25 anos.

    Eles tiveram parada cardiorrespiratória. Nenhum apresentava problemas de saúde e todos fizeram ressonância magnética do crânio, segundo a direção do hospital. Dois passaram mal minutos depois do exame e um paciente chegou a deixar a unidade médica, mas retornou após sentir dores. As vítimas foram a auxiliar administrativa Mayra Cristina Monteiro, de 25 anos, o empresário Pedro Ribeiro Porto Filho, de 36 anos, e o zelador Manuel Pereira de Souza, de 39 anos.

    “Não estamos descartando nenhuma outra linha de investigação no caso, mas os resultados dos exames como o de hemograma, sugerem que houve uma reação química”, explica Brigina. Apenas os resultados dos exames do Instituto Médico Legal, nos corpos, e as análises feitas pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, nos materiais e produtos utilizados nos procedimentos poderão apontar a causa das mortes.

    A especialista da Anvisa afirmou que o agente toxicológico em questão, que está sendo investigado, pode estar presente na seringa, no soro, no medicamento aplicado no contraste, ou, mesmo, ser o próprio gadolínio utilizado em quantidades superiores à permitida. Não está descartada a possibilidade de falha humana, nem do equipamento, nem contaminação proposital.
    Segundo a diretora da Devisa, o quadro de evolução clínica dos pacientes é um forte indicativo de que as mortes podem ter decorrido de uma intoxicação. “Não descartamos uma reação a um agente microbiológico, como um vírus ou bactéria, mas o quadro de evolução não sugere isso.” Se a causa das mortes fosse uma infecção por esses agentes, os pacientes teriam apresentado outro quadro, como febre, quadro evolutivo mais lento, explica a especialista.

    Interdição

    Por conta das suspeitas de que as mortes podem ter relação com o contraste usado, as secretarias de Saúde do Estado e de Campinas interditaram cautelarmente os lotes de produtos utilizados nos exames de ressonância magnética das vitimas. São quatro marcas de soro e duas de gadolínio. O Centro Radiológico do Vera Cruz, permanecerá interditado até que as investigações sejam concluídas.

    Nacionalmente, a Anvisa entendeu ainda não ser necessária a suspensão do uso dos produtos. “Ainda não temos elementos que justifiquem uma medida cautelar nacional, mas se for necessário faremos”, afirmou Maria Ângela.

    Em Campinas, os exames de ressonância magnética com contraste, que foram suspensos nas demais clínicas e hospitais na terça-feira, foram liberados ontem pela Secretaria de Saúde – com exceção do uso dos lotes e marcas que foram embargados sanitariamente.

    Os produtos interditados são:

    Soro fisiológico 250 ml, fabricado por Eurofarma Laboratórios Ltda, lote 252731. Validade 08/2014 Soro fisiológico 500 ml, fabricado por Eurofarma Laboratórios Ltda, lote 249031. Validade 08/2014 Soro fisiológico 250 ml, fabricado por Eurofarma Laboratórios Ltda, lote 245825. Validade 07/2014 Soro fisiológico 10ml, laboratório Samtec. Lote: SOG Validade 02/2014 Soro fisiológico 10ml, laboratório Samtec. Lote: SSN Validade 05/2014 Soro fisiológico 10ml, laboratório Equiplex. Lote: 1230970 Validade 07/2014 Contraste Dotaren, laboratório Guebert. Lote: 12GD324C Validade 10/2015 Contraste Magnevistan, laboratório Bayer. Lote 11568D Validade 03/2015

    Fonte: Estadão Saúde