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Política é cidadania!!!

    Educadores insistem em separar termos de significados idênticos

    Existe uma tendência a excluir a relação direta entre política e cidadania, criando uma rejeição curiosa à política e valorizando cidadania, como se fossem termos diversos. Há um vínculo inclusive de natureza semântica entre as duas palavras, que, objetivamente, significam a mesma coisa.

    A noção de política está apoiada num vocábulo grego, polis (cidade) e cidadania se baseia em um vocábulo latino correspondente, civitatem.

    Embora a origem etimológica seja diferente, os dois termos propõem que se pense na ação da vida em sociedade (ou seja, em cidade).

    Isso significa que não é possível apartar ou separar os conceitos.

    Hoje, encontramos uma série de discursos, lemas e planos pedagógicos e governamentais que falam em cidadania como se ela fosse uma dimensão superior à política.

    Muito se diz que a tarefa da escola é a promoção da cidadania, sem interferência da política. Não se menciona o conceito de política, como se ele fosse estranho ao trabalho educacional; com isso, pretende-se dar à cidadania um ar de ideia nobre, honesta, de valor positivo.

    Sob essa ótica, política é sinônimo de sujeira, patifaria, corrupção.

    Claro que não é assim.

    Ambas as palavras e ações se identificam.

    É preciso recusar a recusa do termo política no espaço educacional!

    Ainda temos essa rejeição ao conceito, como se ele pertencesse a uma área menos significativa e menos decente que a cidadania.

    Ora, não se deve temer a identidade dos conceitos, pois só assim é possível construir cidadania, no sentido político do termo: bem comum, igualdade social e dignidade coletiva.

    Assim, é necessário debater a política e isso é debater a cidadania.

    Falar em política envolve também os partidos, mas não se esgota neles.

    É toda e qualquer ação em sociedade, portanto, toda e qualquer ação em família, em instituições religiosas e sociais, no mundo das relações de trabalho.

    Num momento em que nosso país caminha para um revigoramento do processo democrático, não é aceitável – porque poderá ganhar um ar conservador e até reacionário – admitir que é princípio da escola “não meter-se em política”.

    Ao contrário, é porque se meterá em política que a cidadania se reinventa.

    Porém, não é tarefa da escola a promoção da política partidária, porque partido ou é uma questão de foro íntimo ou deve se dar nos seus espaços próprios.

    É imprescindível levar esse tema para o debate no projeto pedagógico da escola, sem assumir um viés partidário e sem, porém, invisibilizar o conhecimento das múltiplas posturas.

    Há uma diferença entre partidarizar e politizar.

    Mas a política, no sentido amplo de cuidar da vida coletiva e da sociedade, é sim obrigação escolar e componente essencial do currículo.

    Não pode a escola furtar-se ao mundo da política, porque isso implicaria diretamente na impossibilidade da cidadania.

    Mário Sergio Cortella política e cidadania

    Mario Sergio Cortella é Professor de pós-graduação em educação (Currículo) da PUC-SP.