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O Tabagismo é uma doença.

    Avaliação do tabagismo é necessária para ajustar o tratamento às características pessoais de cada doente.

    Nos homens o aumento do consumo coincidiu com a guerra colonial, enquanto nas mulheres o tabagismo acompanhou o longo processo de emancipação feminina de que foi muitas vezes a própria bandeira.

    Neste momento são as pessoas com menos de 55 anos que fumam mais. Como as doenças derivadas do tabaco requerem longos períodos de exposição para aparecerem, é de temer que o cancro do pulmão e a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Cronica) continuem a aumentar nas próximas décadas, mesmo com o êxito evidente.

    tabagismo é uma prisão

    No 1º mundo o tabagismo é um problema de Saúde Pública “major”, que é imperioso controlar para conseguir ainda ganhos na saúde e na expectativa de vida.

    A grande aposta reside na prevenção primária. É necessário fazer com que as nossas crianças e adolescentes não iniciem o hábito de fumar como fazem hoje.

    Para isso impõe-se investir em educação, sobretudo dentro da família, criando um ambiente saudável, livre de tabaco. As crianças não podem continuar a sofrer de tabagismo passivo a partir dos pais e amigos, não podem ser expostas às imagens sedutoras dos seus ídolos a fumar (políticos, desportistas, treinadores de futebol) e a sofrerem publicidade subliminar.

    A prevenção primária é onde falhamos atualmente. Será seguramente a última meta a ser vencida devido à sua complexidade, sendo necessário a confluência de todas as medidas restantes e um esforço de continuidade a prazo muito longo.

    É também necessário ajudar os fumadores atuais a deixar de fumar. Felizmente o número de fumadores que procuram ajuda para deixar de fumar não pára de aumentar. Curiosamente este movimento de procura precedeu a nova Lei do tabaco.

    Foi muito estimulado pela discussão das normas internacionais que prepararam a opinião pública portuguesa. A esta procura, a sociedade respondeu organizando múltiplas proposta de tratamento duvidoso e o Serviço Nacional de Saúde respondeu com a criação de consultas de Cessação Tabágica por todo o País, nos serviços hospitalares de Pneumologia e em Centros de Saúde.

    A nova Lei do tabaco , com apenas alguns meses de vigência, revelou-se um instrumento fundamental como se esperava. De facto não havia razões para pensar que os seus efeitos seriam diferentes dos que foram obtidos noutros países europeus.

    Com a nova Lei o País  mudou. Esta mudança, além de refletir-se em menos consumo de tabaco e na proteção de todos (fumadores e não fumadores) os expostos ao fumo passivo, contribuiu para o nascimento de uma atitude nova a explorar na educação das nossas crianças.

    O tabagismo é uma doença. Como doença, o tabagismo tem o diagnóstico mais fácil que há. Ainda assim há muitos fumadores regulares que negam a dependência (“fumo apenas um cigarro ou outro, mas paro quando quero”) e sobretudo negam as repercussões na saúde para não terem de encarar uma decisão difícil e penosa perante a família e perante si próprios.

    Quando se entrevista um fumador com vista à caracterização da doença, é preciso definir o grau de dependência através de questionários com perguntas do tipo: “a que horas sente necessidade do primeiro cigarro?” Esta avaliação diagnóstica é necessária para ajustar o tratamento às características pessoais de cada doente.

    Como doença, o tabagismo trata-se com a ajuda dos serviços de saúde, com apoio psicológico e agora com fármacos muito mais eficazes. A primeira medida é a vitória do fumador sobre si próprio, ao recusar as hesitações e encarar as consequências da abstenção. Sem esta motivação pessoal insubstituível, nada vale a pena.

    Quando o doente nos procura com esta decisão tomada, a Medicina tem respostas organizadas e testadas, capazes de ajuda efectiva. O doente entra num programa de cessação tabágica onde é importante a informação leal e solícita, o compromisso, a avaliação regular e o tratamento das dificuldades que aparecem ao longo do programa de cessação de um ano.

    Algumas dificuldades são perfeitamente previsíveis e evitáveis; há contudo doentes que sofrem perturbações inesperadas, de acordo com a sua maneira específica de sentir, que precisarão da atenção muito próxima do seu médico, de modo a evitar a tentação de suprimir o sofrimento com o retorno ao tabaco.

    Há poucos fármacos úteis na ajuda à luta contra a dependência, mas há pelo menos dois fármacos que, administrados estrategicamente, contribuem para conseguir o sucesso.

    Deixar de fumar é sempre possível.

    Importa deixar de fumar antes de haver repercussões irreparáveis na saúde. É um combate que milhares de pessoas travam e vencem diariamente.

    Dr. J. Agostinho Marques
    Director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
    Membro do Fórum Médico sem Tabaco

    Fonte: Saúde em Revista
    Em: Médicos de Portugal