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Longevidade em ilha grega intriga cientistas

    Cientistas estão investigando o segredo da longevidade dos 8 mil moradores da Ilha de Ikaria, no leste da Grécia, que vivem em média dez anos a mais que a maioria dos europeus e apresentam uma saúde muito melhor no final de suas vidas.

    Pesquisadores da Universidade de Atenas, na capital do país, estudaram os moradores locais com mais de 65 anos. Christina Chrysohoou, cardiologista da universidade, afirma que eles sofrem dos mesmos tipos de doenças que as outras pessoas, como câncer e problemas cardiovasculares, mas estes problemas ocorrem mais tarde.

    “(…) Não podemos evitar estas doenças, mas eles conseguem preservar a qualidade de vida por muitos anos. A idade média para (ocorrência de) doenças cardiovasculares é entre 55 e 65 anos. Em Ikaria, isto acontece cerca de dez anos depois”, afirmou.

    Entre os moradores da ilha, o número de fumantes é baixo, o cochilo depois do almoço é regra, o ritmo de vida é lento, e as pessoas se reúnem com amigos e familiares com freqüência, bebendo quantidades moderadas de vinho. As famílias grandes dão aos moradores mais idosos um papel importante na sociedade, e os níveis de depressão e demência são baixos.

    Dieta 

    Outros fatores também podem contribuir para a longevidade dos moradores da ilha. Mesmo em comparação à dieta típica da região do Mediterrâneo, os que moram na ilha consomem mais peixe, verduras e legumes e também níveis relativamente baixos de carne.

    Seis entre dez pessoas com mais de 90 anos ainda são fisicamente ativas, em comparação com apenas 20% destas pessoas em outros lugares. A maior parte dos alimentos é cozida em azeite. Grandes quantidades de ervas são colhidas e usadas para temperos e fins medicinais.

    Muitos fazem um chá consumido diariamente com ervas secas como salvia, camomila, hortelã, entre outras. Para adoçar, apenas o mel local. Muitas destas ervas silvestres são usadas no mundo todo como remédios tradicionais e são ricas em antioxidantes e também diuréticas, o que pode diminuir a pressão sanguínea.

    Os pesquisadores da Universidade de Atenas também pretendem realizar estudos geológicos da ilha, para saber se elementos radioativos existem em Ikaria e podem terefeito sobre alguns tipos de câncer. Além disso, também há estudos genéticos, que comparam o DNA dos moradores com o DNA de outros que nasceram na ilha, mas deixaram o lugar e, por isso, têm um estilo de vida diferente.

    Câncer de pulmão

    De acordo com seus documentos, Stamatis Moraitis completou 98 anos no dia 1º de janeiro, mas acredita que é mais velho. Todos os dias ele cuida de suas oliveiras, árvores frutíferas e parreiras. Ele fabrica 700 litros de vinho por ano.

    Há 45 anos, quando morava nos Estados Unidos, ele foi diagnosticado com câncer de pulmão, e os médicos deram a ele apenas nove meses de vida. Moraitis decidiu voltar para Ikaria, para ser sepultado com seus pais. Ele conseguiu reencontrar os amigos no vilarejo, e eles se reuniam para beber vinho. “Pelo menos eu morreria feliz”, disse.

    “Todo dia nos reuníamos, bebíamos vinho e eu esperava. O tempo passou e eu me sentia mais forte. Nove meses passaram, eu me sentia bem. Onze meses passaram, eu me sentia melhor. E agora, 45 anos depois, ainda estou aqui!”

    Em outra casa mora George Kassiotis, que vai completar 103 anos. Voula, sua mulher, mostra a mesa farta com cogumelos, peixe, verduras, legumes e vinho. “É só um lanchinho”, afirma ela.

    Kassiotis mostra os documentos e fotos. Ele lutou contra os italianos na Albânia durante a Segunda Guerra Mundial e ajudou na construção de uma estrada na ilha, antes de se aposentar em 1970. “Não como alimentos industrializados, não fumo e não me estresso. Não tenho medo da morte. Sabemos que todos vamos chegar lá”, disse.

    Na casa de Nikos Karoutsos, um dono de hotel de 50 anos, o ambiente é parecido: mesa farta, vinho, amigos e familiares visitando, bebendo e comendo juntos. Crianças e adolescentes ficam entre a mesa e o computador.

    Mais recentemente, Ikaria, perto da costa da Turquia, foi identificada como parte das chamadas “zonas azuis”, identificadas pelo autor Dan Buettner, que escreve para a revista National Geographic, como áreas onde as pessoas têm uma vida mais longa.

    Entre estas “zonas azuis” estão as Ilha de Okinawa, no Japão, a província italiana de Luoro, na Ilha da Sardenha, na Itália, e a cidade de Loma Linda, na Califórnia.

    BBC Brasil