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Fitoterapia na Atenção Básica em Londrina

    Depressão e ansiedade leves, insônia, dores crônicas, pedra nos rins, lesões e inflamações de boca, infecções de repetição, algumas doenças digestivas e respiratórias, dores nas articulações, sintomas da menopausa.

    Esses problemas de saúde já estão sendo tratados, complementarmente, com medicamentos fitoterápicos em 30 dos 54 postos de saúde de Londrina. São 34 tipos de remédios fitoterápicos e seis tipos de plantas desidratadas (chás).

    fitoterapia

    Estima-se que 250 mil a 300 mil pessoas têm acesso a esse tipo de tratamento. A expansão foi grande em sete anos de programa. Em 2003, quando foi implantado, eram 13 postos de saúde, apenas um da zona urbana, e 6 tipos de medicamentos.

    Além da ampliação, alguns resultados já são colhidos, mas alguns alertas são feitos pelo próprio coordenador do programa, médico Rui Cépil Diniz.

    “Os fitoterápicos são complementares. É importante saber que ninguém pode substituir um tratamento de doença grave por um fitoterápico e seu uso exige orientação médica”, afirma Diniz.

    Ele alerta também para os cuidados com o uso de ervas e chás caseiros e diz que a população precisa entender que os postos de saúde, hoje, estão capacitados para orientar sobre os fitoterápicos, por isso, deve recorrer a essas unidades.

    Diniz afirma que tratar uma doença com fitoterápicos não se restringe a receitar esse tipo de medicamento. “É muito mais que mudança de remédio, mas mudança filosófica”, explica.

    São diversos fatores implicados, desde alimentação saudável, prática de exercícios e até paz de espírito, de acordo com o médico.

    Segundo Diniz, o acolhimento do paciente por parte do profissional de saúde é outro fator fundamental para a melhora do paciente.

    Os profissionais de cada unidade que adere ao programa são capacitados para prescrever o medicamento fitoterápico.

    No treinamento, Diniz, aproveita para dar orientações sobre todas essas questões, que devem ser repassadas ao paciente.

    Ele ressalta que, embora a adesão dos médicos e dos pacientes não seja de 100%, em sete anos de programa foi possível reduzir o uso de alguns medicamentos alopáticos.

    No posto de saúde do Patrimônio Regina, por exemplo, a enfermeira Gisela Luppi Noivo Aroceno, fez um estudo em 2008 sobre o uso desses medicamentos.

    Ela conta que foi possível substituir o uso de psicotrópicos por valeriana (fitoterápico) em 9 de 10 pacientes. “A transição foi gradativa e durou dois meses. Hoje, sabemos que dois acabaram voltando para psicotrópicos. Outros, saíram até da valeriana”, conta.

    O médico Rui Diniz afirma que na unidade de saúde da Vila Brasil, na qual ele atua a redução de psicotrópicos também foi significativa: 60%.

    Ele ressalta, no entanto, que o objetivo, com exceção desses casos, não é substituir medicamentos. “Os fitoterápicos são uma terapia a mais que o médico tem a sua disposição para complementar o tratamento da lista básica.”

    Helena se livrou da dormência nas pernas e nas mãos

    Dona Helena Sterza, 60 anos, há algum tempo sofria com dormência nas pernas e nas mãos. Era um incômodo que parecia sem importância, mas no dia a dia tirava muito de sua qualidade de vida. Somavam-se a isso os efeitos da menopausa.

    Há três anos ela viu esses sintomas desaparecerem.

    Os responsáveis foram os medicamentos fitoterápicos receitados no posto de saúde: a castanha da índia a livrou da dormência nas pernas e nas mãos e a isoflavona a libertou das ondas de calor provocadas pela menopausa. “Os dois medicamentos foram maravilhosos para mim. Tomo desde 2007 e não tenho mais esses problemas.”

    Ela mora em uma chácara e se diz “amante das ervas”. Assim, os fitoterápicos não eram novidade para ela. “Sempre useis chás e tenho plantados em casa, espinheira santa, melão de São Caetano, tanchagem e outras ervas. São muito boas.”

    É natural, mas tem que ter cuidado com uso

    O coordenador do Programa Municipal de Fitoterapia, médico Rui Cépil Diniz, alerta para alguns cuidados. O primeiro deles é com modismos.

    Babosa e aveloz são as plantas da vez nesse quesito. “Muita gente tem usado [babosa] para tratar câncer e é uma planta que tem alta toxicidade, podendo causar lesão hepática”, afirma.

    O leite da aveloz, segundo o médico, tem sido usado, incorretamente, também para tratamento de câncer. “É muito tóxica e não deve ser feito seu uso doméstico”, explica.

    A população deve ficar alerta também com plantas milagrosas. ”A planta que é boa para tudo, geralmente, não é boa para nada. Cada planta tem uma ou duas indicações.”

    A gerente de logística de projetos especiais em Saúde, Sônia Hutul, também faz alguns alertas como não usar planta que desconhecida; não pegar planta de beira de estrada, porque está contaminada com gás carbônico dos carros; nem plantas que estão próximas de plantações agrícolas, em função do agrotóxico.

    Na colheita e no preparo das plantas para chás também são necessários alguns cuidados.

    No preparo da planta para o chá, Sônia Hutul explica que as plantas mais sensíveis, geralmente, as mais aromatizadas, como hortelã, erva cidreira e camomila perdem princípio ativo com a fervura. “As plantas mais grosseiras como canela, cravo, chá mate, precisam da fervura para extrair o princípio ativo.”

    Fonte: Jornal de Londrina